
Logotipo do Ciberdúvidas
Fez ontem 20 anos o Ciberdúvidas, criado pelos meus colegas jornalistas José Mário Costa e João Carreira Bom (já morto), com quem cheguei a coincidir no Expresso.
Não vou falar no que me parecem os méritos do projecto, que lamento muito não conseguir ser rentável (talvez portanto os méritos sejam menores do que eu pensava).

Bons tempos em que havia alguma coisa por trás da criação de palavras novas
Vou só dizer que nesta época de progressismos excessivos, um bocadinho de conservadorismo poderia temperar e tornar mais meritórios estes projectos. Antigamente, uma língua precisava de que grandes figuras (como escritores de muito peso) aparecessem com novas palavras, para ser viva. E era-o. Hoje, temos o péssimo exemplo do Prof. Malaca Casteleiro a andar pelas ruas a pegar em qualquer alarvidade que se atire pela boca, para correr a enfiá-la no Dicionário da Academia (que não uso, por sinal), e dar-lhe respeitabilidade. Ou uma deputada qualquer a ‘inconseguir’ coisas. Os que querem uma língua séria são qualificados de excessivamente conservadores.
É como aquela de os portugueses que lêem jornais espanhóis falarem em lavagem de dinheiro como ‘branqueamento de dinheiro’, sem pensarem por um minuto que branqueamento em espanhol significa também lavagem de roupa. E a expressão lavagem de dinheiro vem exatamente de lavagem de roupa, por causa das lavandarias criadas com esse fim por Al Capone. Ora o Ciberdúvidas, em vez de se esforçar por manter uma língua séria, prefere também avançar por esses caminhos ínvios, que parecem mais democráticos e menos conservadores – e são

Branquear roupa e dinheiro?
seguramente muito mais fáceis e ignorantes. Tão democráticos como os barbeiros que fazem cortes de cabelos a eito à miudagem ao estilo de Cristiano Ronaldo. E ninguém para a pensar que, para além de se fomentar uma total falta de originalidade, Ronaldo pode jogar muito bem futebol, mas não parece um grande exemplo em estética ou etiqueta. Claro que parecerá mais democrático fazer sala na cozinha, quando vemos que muitas famílias nem sabem o que é uma sala de estar. Mais democrático, e mais fácil do que lutar para que todos tenham uma sala de estar. E sempre parece ser mais à Ronaldo – que até a poderia ter, mas provavelmente não lhe saberia dar uso. Nem, com a arrogância que deve ter, quererá aprender.