A Alemanha surpreende-me

Markel derrotada, fotografia da TVI24
As eleições parciais na Alemanha, no Estado porque concorreu sempre Ângela Merkel desde 1990, Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental, surpreenderam-me mas por razões diversas das dos outros analistas.
No fundo, as sondagens já indicavam a subida da extrema direita nacionalista e contra os refugiados, os populistas da Alternativa para a Alemanha (AfD), que obteve agora 22% dos votos. Portanto, este grupo ter ficado em 2º lugar, à frente da CDU de Merkel (3º, e 20%, menos 3 pontos do que nas eleições anteriores) não foi surpresa para mim.
Surpresa foi o 1º e mais votado continuar a ser o SPD, com 30%, embora menos 5 que antes (e compreende-se a manutenção da coligação eleitoral com a CDU, que parece ser um sucesso de Executivo regional). É que com a política interna nacional da coligação CDU/SPD fica

Sigmar Gabriel, líder do SPD, fotografia do Público
muito pouco terreno alternativo para os sociais-democratas. Merkel sempre defendeu e deu aos seus cidadãos um óptimo Serviço Nacional de Saúde. Embora desminta que eles têm um horário de trabalho nacional menor do que no resto da Europa, eles têm-no de facto menor, sem necessitarem da imposição legal nacional. Por outro lado, os alemães, sob Merkel, vivem bem sem precisarem de um segundo emprego (o que deve ser raro no mundo em geral, e no resto da Europa em particular). E, num estatuto semelhante aos nórdicos ricos, as empresas funcionam com a cogestão mais ou menos generalizada (ou seja, a implicação dos trabalhadores na sua gestão). A dureza direitista de Merkel na Europa tem visado simplesmente conseguir um paraíso distinto na Alemanha (sem pensar se esse paraíso, assim isolado na Europa, pode realmente sobreviver; pelos vistos, não pode).
Claro que podemos dizer que os alemães são mal agradecidos e gananciosos demais. Mas essa é a História deles de sempre. Vão morrer de sucesso, nas mãos de uns populistas inconscientes – mas não menos inconscientes do que o resto da Alemanha que os elege.
Tanto mais que, como destaca o Guardian, a Pomerânia Ocidental é das zonas da Alemanha que menos refugiados tem recebido. O que faz compreender ainda menos este eleitorado. Ou não compreender que o eleitorado não seja ainda devidamente conhecido por quem o deve conhecer melhor.