Ensino privado depende do Estado

Fotografia do JN
Achei interessante um artigo de opinião de Ricardo Costa no Expresso Diário, segundo o qual Passos talvez possa tirar dividendos imediatos da sua colagem à luta dos colégios privados pelo dinheiro dos contribuintes – mas que se o assunto se arrastar acabará por perder.
Na verdade, não consigo entender esta espécie de liberais, que não sabem funcionar sem o dinheiro do Estado, ou seja, dos contribuintes. Acham que o dinheiro não pode ir para prestações sociais (nomeadamente, saúde, ensino, reformas e pensões), mas tem de ir todo parar aos bolsos de um escasso número do que agora se chama ‘empreendedores’ da iniciativa privada.
Vi uma entrevista da secretaria de Estado a referir que com o dinheiro retirado aos colégios privados se poderá pagar os manuais escolares do ensino público. E não é muito mais bem empregue o dinheiro aí?
De resto não compreendo membros de uma Igreja católica a que também pertenço esquecerem os princípios cristãos da fraternidade e ajuda social, por causa de ter alguns colégios seus que também viviam do Estado e dos contribuintes. Se a Ijgreja portuguesa quer recuar relativamente à independência do Estado (o que nem sequer assume claramente através dos seus representantes), então advogue por uma Concordata que vá nesse sentido. Em Espanha, por exemplo, e numa Concordata contra a qual Felipe Gonzalez decidiu não lutar, o Estado financia os colégios católicos, que devem depois submeter-se às regras públicas de admissão de estudantes.
De resto, quando os privados falam na necessidade de despedimentos no seu sector por deixarem de contar com a ajuda pública (de dinheiro dos contribuintes), esquecem que também o sector público pode ter de despedir por causa deles. Pior: que os alunos ficam sem manuais escolares por causa deles.