Os excessos nacionalistas russos

Fotografia de aim.org
Estou a levar agora uma imersão contraproducente nos excessos nacionalistas russos. Primeiro, com o ciclo de cinema do Nimas (em Lisboa, e noutras salas do País), em que levamos em todo o esplendor com o nacionalismo russo de grandes figuras do cinema como Eisenstein, Vertov, Dovzhenko, Romm, etc. Um deles até nos lembra que na II Guerra, dos 50 milhões de mortos, 20 milhões eram russos, e deram a vida para que um regime ditatorial bastante fascista, apesar de comunista (para o povo, que a elite tratava-se bem de mais), no seu excesso de nacionalismo, sobrevivesse apenas na Rússia, onde Staline prosseguiria com a eliminação em massa dos próprios compatriotas (por muito comunistas que fossem, por muito parentes, por muito heróie de guerra, ou sobretudo todos esses) que o faziam temer a perda do Poder.
No entanto, o mesmo nacionalismo russo, por exemplo em Eisenstein, já se via em filmes históricos sobre épocas remotas e medievais, como o Alexandre Nevsky ou o Ivan o Terrível. Dá-nos até para perceber que, embora as eleições devam ser muito viciadas, e os líderes continuem a sentir a necessidade de eliminar opositores, os russos gostam tanto de se submeter a este tipo de ditadores, que preferem (pelo menos, em número suficiente para o sucesso) um Putin de terceira classe e vindo do KGB a um Gorbachev de maior categoria (mas que não lhes acirrou tanto os instintos nacionalistas).
De resto, nesta minha imersão, estive também a ler uma biografia da filha de Staline, Svetlena, da autoria da americana Rosemary Sullivan (edição portuguesa da Temas e Debates, 2016), em que as memórias dela são muito negativas para o pai, e nem sequer acredita nas boas intenções de pessoas como Krutchev, Gorbatchev e Ieltsin (no caso deste alcoólico, até parece ter tido muita razão, e talvez também nos outros).
Finalmente, e para rematar o horror ao nacionalismo russo, leia-se O Fim do Homem Soviético (edição Portuguesa da Porto Editora, 2015) da escritora bielo-russa Svetlana Alexijevich, Prêmio Nobel de Literatura (2015).
Ah, e ainda a propósito do ciclo de cinema russo, talvez tenhamos de admirar grandes cineastas mesmo com instintos muito malévolos, como a nazi Leni Riefenstahl, bem denominada ‘génio maldito’.