Funcionários a mais, trabalho a menos

Fotografia do Globo
O Presidente pouco democrático e pouco carismático da Venezuela, Nicolás Maduro, que vai tentando capitalizar o carisma do antecessor (Hugo Chávez) começou por alargar um dia os fins-de-semana dos funcionários públicos (6ªs-feiras), para depois ir mais longe e os pôr a trabalhar apenas 2 dias por semana.
Faz-me lembrar uns dirigentes públicos portugueses, quando explicavam que por cada feriado, o Estado poupava imenso dinheiro (com a Função Pública fechada, que pelos vistos poupava mais do que gastava). Coisa simples que o anterior Executivo nunca conseguiu captar.
Com a informatização dos serviços, tenho visto departamentos públicos antes a abarrotarem e agora vazios. Eu próprio, recentemente desempregado, pedi ao mesmo tempo uma reforma antecipada e um subsídio de desemprego – tendo aquela atribuída num recorde tal de tempo, que este ficou sem efeito. Percebi que os funcionários das reformas antecipadas iam despachando o seu trabalho, enquanto os do subsídio de desemprego o iam arrastando (talvez coçando-se pelas paredes).
Claro que as novas tecnologias, aparentemente, levam mesmo ao fim do capitalismo como o conhecemos (Paul Mason dixit). E é preciso os governantes irem-se convencendo de que chegou a hora de se trabalhar muito menos – para se manter alguma justiça social, e haver verdadeira distribuição da riqueza gerada tecnologicamente. Já se sabe que os empresários, no seu egoísmo ganancioso, nunca aceitaram diminuir um horário de trabalho (nem dos tempos em que não existia horário limitado, até havê-lo), sendo sempre preciso forçá-los a eles e uns comentadores patós que acompanham os seus argumentos e se recusam a perceber as realidades.
Mas esta de pôr um serviço público inteiro de um país a trabalhar 2 dias por semana, é o mesmo que reconhecer quão excessivo e desnecessário é esse serviço. Se eu fosse funcionário público venezuelano, com ou sem razão, não lhe agradecia o bónus, e preocupar-me-ia por ele não entender a indispensabilidade de uma reforma mais profunda do tema.
E desculpem-me lá, mas nunca acreditei na vontade dele de promover um referendo sobre a sua exoneração, por muito legal que ele seja. Ou ter-se-á tornado repentinamente legalista?