Achei graça ao facto de os trabalhadores terem votado contra a proposta da Comissão de Trabalhadores da AutoEuropa, agora mais do PCP. Antes, votaram contra, aparentemente com o beneplácito do PCP, que se irritava de estar fora daquela estrutura, e queria os sindicatos mais interventivos, como continua certamente a querer, porque os domina mais. Agora, se percebi bem, votaram contra a vontade do PCP – o que este partido deve detestar.

Autoeuropa, imagem de setubalnarede.pt

Entretanto, reafirmo que por causa de a AutoEuropa ter funcionado até agora como grande exemplo mundial, e ser grande empregadora, não se pode ceder a tudo o que a administração queira, contra a vontade dos trabalhadores. Isso seria sempre mau. O bom da empresa foi ter conseguido equilibrar até agora interesses da administração e dos trabalhadores, através de uma certa forma de ‘cogestão’ (em que o presidente da Comissão de Trabalhadores, embora não pertencesse à administração, era como se pertencesse, e tinha uma palavra definitiva sobre tudo, conseguindo arrastar atrás das suas posições todos os trabalhadores). Mas isso era um estilo muito alemão. Que o actual presidente da AutoEuropa, suponho que português, não consegue levar por diante (e tem até outros azares, como o da falta de fornecimentos que lhe permitam ter a fábrica a laborar).

Quem quer agora ceder a toda a pressa, seja com que condições for, é aparentemente corresponsável das desgraças em que o País andou, e não tem em conta que o sucesso até agora da AutoEuropa residia no acordo entre a administração e os trabalhadores (que para o sucesso continuar, devem manter o mesmo peso nas decisões finais – independentemente de serem representados por comunistas, socialistas ou gente um pouco mais à direita ou à esquerda). Parece que já não é tão indiferente ser a presidência alemã ou de outra nacionalidade.