
Pedro Dias entregou-se à Polícia, fotografia do DN
Vamos lá falar um nadinha de jornalismo. Eu sempre quis, como jornalista, ser um defensor de certos pontos éticos em que acredito. Por exemplo, não tenho a menor paciência para ouvir uns certos leigos muito impreparados (parece ser essa a moda) que falam com ar definitivo no engano da Imprensa a propósito do resultados das eleições nos EUA, pensando nos órgãos de comunicação americanos mais sérios, como o NYT ou a CNN, mas podemos acrescentar milhares de outros (mesmo da área republicana), que nunca se furtaram à obrigação de serem livres e mostrarem ao mundo a fraude que é Trump (e que ele mais uma vez reafirmou ontem, ao dizer depois de eleito tudo o contrário que tinha dito na campanha; mas também me parece ser pessoa sem

Fotografia da beira.pt
capacidades para perceber as diferenças). E estes mesmos não sabem ou não falam de todos os órgãos de comunicação do grupo Fox que, sendo alinhado e nunca tendo querido sequer passar por respeitáveis ou verdadeiros (procurando apenas o público dos convencidos que estão consigo), sempre apoiaram descaradamente Trump, e as suas reiteradas mentiras, sem nunca procurarem investigá-las.
E agora vamos ao caso português, do fugitivo Pedro Dias. Estou convencido que ignorância própria de fugitivo e de advogados pouco

Entrevista à RTP3
dados a leituras, os terão levado a ignorar que a entrega de Dias seria completamente absorvida pelas eleições norte-americanas. A não ser que quisessem mesmo isso. Agora outra coisa: como jornalista, não hesitaria também em aproveitar a vantagem de ter um encontro com ele à frente da concorrência. Mas já me parece errado esconderem factos essenciais, ou ouvi-lo passivamente, sem investigar o que ele diz. Afinal, será assim tão difícil concluir se ele matou ou não cruelmente 2 pessoas (e abandonou uma 3ª viva, porque esta se fingiu de morta)? É admissível apresentar um

Trump no discurso da-vitória igual a si mesmo e oposto às promessas da campanha, fotografia de uol.com.br
assassino cruel (é realmente, como parece ser, o caso) como um gentleman perseguido por uma Polícia horrível, que até sacrificou elementos seus para nos proteger de tal figura? É admissível considerar normal ele recusar dar amostras do ADN, mesmo que isso seja um dos tais direitos legais de que os assassinos gozam para se imporem às vítimas?
Enfim, acho que os jornais têm todo o direito de aproveitarem vantagens e irem à frente, desde que não o façam passivamente. Nem em relação a Pedro Dias, nem em relação a Trump (que não passou a santo só por ter sido eleito, mesmo dando de barato que as regras permitem considerar certa a eleição apesar de ter menos votos populares do que a rival – o que também não deve deixar de ser dito e frisado).