Ericeira foi donde partiu D. Manuel II para o exílio

Saída de D. Manuel II para o exílio, da praia da Ericeira, fotografia de ericeiramag.pt

Saída de D. Manuel II para o exílio, da praia da Ericeira, fotografia de ericeiramag.pt

Talvez a Praia da Ericeira seja especialmente conhecida dos portugueses, por ser daqui que partiu, por água (no Iate Real) D. Manuel II para o exílio – primeiro em Gibraltar, ainda com esperança de voltar, e depois em Inglaterra, a expensas do erário público nacional, que lhe dava avença. Foi depois de um jantar com o Presidente do Brasil (no Brasil, a República fora declarada uns anos antes, em Novembro de 1989), e após pernoita em Mafra. D. Manuel II apreciava muito pernoitar em Mafra, e lá tinha aposentos. De resto, o Convento de Mafra, é todo um monumento, cuja construção mereceu o principal romance do único Prémio Nobel da Literatura em português, José Saramago. Sabe-se que D. João V, para o construir, com o oiro do Brasil, mandou recrutar e prender todos os artífices e pedreiros encontrados pelo país fora.

Ericeira é uma vila turística (na realidade, uma verdadeira estância balneária) situada a 35 km a noroeste do centro de Lisboa, a 18

Praia dos Pescadores, fotografia de turismoenportugal.prg

Praia dos Pescadores, fotografia de turismoenportugal.prg

km de Sintra e a 8 km de Mafra. Dantes vinha-se por Sintra, numa viagem quase épica. Hoje, com a A8 e a A21, é mais rápido. As zonas de maior interesse circundantes são o próprio Convento de Mafra e o atelier do falecido ceramista José Franco (1920-2009, que se dedicou sobretudo à arte sacra, com obra inclusivamente no Vaticano), no Sobreiro, junto também a Mafra, onde construiu uma aldeia portuguesa em miniatura. A Ericeira é uma vila muito antiga, presumivelmente local de passagem e instalação dos Fenícios. Reza a lenda que o nome Ericeira significa, na origem, “terra de ouriços”. Com a descoberta de um exemplar do antigo brasão da Vila, hoje no Arquivo-Museu da Misericórdia, confirmou-se que o animal ali desenhado é, de facto, um ouriço-cacheiro.

A história da terra remonta, assim, a cerca de 1000 a.C.. O seu primeiro foral data de 1229, e tem logo referências aos pescadores. No século XIII, a baleia (imagine-se!), toninha e delfim eram as espécies mais pescadas, tendo dado lugar, já no século XVI, à raia, ao rodo valho e à pescada. Em 1547, D. João III

Centro da vila, fotografia de portugalsurfcamp.com

Centro da vila, fotografia de portugalsurfcamp.com

concede aos pescadores ericeirences a permissão de venderem o peixe “a olho” e não “a peso”, costume que ainda há trinta anos se mantinha. D. Manuel I doou esta vila ao infante D. Luís, s eu filho, que por sua vez a passou ao irmão natural, D. António, prior do Crato. Em 1855, na sequência de uma reordenação administrativa do território, a Ericeira deixou de ser concelho para ficar na dependência de Mafra, sede concelhia até aos dias de hoje.

A Ericeira conheceu no Século XIX a sua época áurea, porquanto foi o porto mais concorrido da Estremadura, com alfândega, por onde se fazia o abastecimento de quase toda a província. Daí a tornar-se a estância balnear chique (talvezpela proximidade da Família Real) e popular foi um salto. A região da Ericeira é bem conhecida em termos de surf, kitesurf, windsurf, bodyboard e stand-up paddle. Foi recentemente reconhecida pela organização norte-americana Save the Waves Coalition como a primeira reserva de surf da

Desportos radicais, fotografia de surfinntravel

Desportos radicais, fotografia de surfinntravel

Europa e a segunda do mundo, devido à excelência das ondas.

Embora a sua praia principal seja a do Sul, da Baleia ou de Banhos, por ser uma das mais seguras do concelho, e abrigada dos ventos de norte pela Ponta de Santa Marta, apesar de se resumir hoje a um areal pouco extenso confinado à parte Sul da praia (com bares de apoio, salva-vidas e balneários públicos), são inúmeras as praias da terra: a dos Pescadores, do Norte, do Miradouro, dos Coxos e de São Lourenço. E há ainda muitas outras no conselho de Mafra, a que não cabe referirmo-nos aqui em detalhe: Praia da Calada, Praia da Orelheira, Praia da Empa, Praia do Matadouro, Praia de São Sebastião, Praia da Foz do Lizandro (a maior do concelho de Mafra) e Praia de São Julião.

Porto da Ericeira, fotografia de ericeiraonline.pt

Porto da Ericeira, fotografia de ericeiraonline.pt

Consta que ao velho porto (com uma Alfândega que se estendia até Cascais) se deve o desenvolvimento da vila. Em importância nacional, este porto estava logo atrás dos de Lisboa, Porto e Setúbal. Com a construção do caminho-de-ferro do Oeste e o desenvolvimento dos transportes terrestres, o porto da Ericeira foi perdendo importância. Nos finais do século XIX instalaram-se na vila armações fixas de pesca da sardinha que vieram alterar as antigas características piscatórias, mas que tiveram um papel sócio-económico importante. Os veraneantes parecem ter surgido como compensação pela perda de importância do porto, e passaram a procurar a vila pelas suas características climáticas e alto teor de iodo das praias (coisas agora tão fora de moda em zonas como o Algarve). Charles Lepierre, engenheiro químico que deu nome ao Liceu Francês de Lisboa, considerou-as, há cinquenta anos, como «o fulcro da maior concentração de iodo de toda a costa portuguesa».

Em 1958 depois de fartos do elevado número de tragédias ocorridas na Ericeira, uma comissão de moradores reuniu-se com o

Capela de Stª Marta, fotografia da C.M. de Mafra

Capela de Stª Marta, fotografia da C.M. de Mafra

Ministro, Eng. Arantes e Oliveira para a construção de um molhe. A construção deste apenas começou em 1973, mas desde cedo o seu desenho foi criticado pelos pescadores por estar na zona de pancada do mar, onde a força da rebentação é mais forte. Isto veio a ser demonstrado, quando em 1977 o mar partiu o molhe em dois, o que foi seguido de muitos outros estragos ao longo dos tempos. Um desses estragos levou à queda do farol que havia sido instalado na ponta do molhe.

O Sumol Summer Fest, maior evento de música reggae do país, realiza-se todos os anos no Ericeira Camping, no mês de Junho, trazendo milhares de pessoas à Ericeira. Para comer, lá temos o peixe de água fria e batida, aqui servido fresquíssimo em vários restaurantes. E depois há o grande hotel da Ericeira, bem dentro do mar, agora pertencente ao grupo hoteleiro Vila da Galé.

Ericeira, Hotel de Turismo da Vila Galé, foto de restosdecoleccao.blogspot.comPatrimónio a destacar: edifício na Praça da República, onde funcionou o Café Arcadas, e está actualmente Junta de Turismo da Ericeira; Forte de Milreu ou Forte de São Pedro; Forte de Nossa Senhora da Natividade; Igreja Paroquial de São Pedro da Ericeira; Pelourinho da Ericeira, Capela de São Sebastião; Capela de Nossa Senhora das Necessidades e Santa Marta; Capela de Nossa Senhora da Boa Viagem e Santo António; e Capela de Nossa Senhora do Rosário da Misericórdia. Quanto a festas e romarias, temos: São Sebastião (domingo mais próximo de dia 20 de Janeiro), São Vicente (22 de Janeiro), Procissão do Sr. Morto (Sexta-feita Santa), Dia da espiga (Quinta-feira da Ascensão), São Pedro (padroeiro, 28 de Junho), Alhos (25 de Julho), Nossa Senhora da Boa Viagem (3º Domingo de Agosto), Sagrado Coração de Jesus (Agosto), Nossa Senhora da Conceição (8 de Dezembro) e Nossa Senhora de Nazaré (realiza-se a cada dezessete anos, tendo calhado uma este 2016).

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