Entre os inúmeros elogios a Francisco Balsemão, na hora da sua morte (suponho que ele recebeu a maior homenagem de um morto em Portugal, maior até que a de Francisco Sá Carneiro, um PM em plenas funções, que ambos acompanhámos, com papéis diferentes), ouvi uma espécie de crítica: sobre uma forretice, ilustrada com um Porsche velho.
Evitei escrever sobre ele, por considerar que me tomara uma certa ponta, erradamente convencido de que liderara no Expresso uma corrente contra o seu Governo. Penso inclusivamente, que se tivesse aceitado convites de Augusto para alguns cargos (com o argumento de que era favorável aos operacionais no jornalismo, como então era moda), ele se teria oposto. Embora me ache um jornalista completamente independente (e aprendi a sê-lo, numa altura em que não havia cursos da especialidade, com ele, com Marcelo e com Vicente Jorge Silva, três excelentes professores, de quem retive de cada um coisas distintas), até me parece que os seus governos foram bons, os melhores em Portugal a seguir aos de Cavaco.
Claro que acerca da forretice, ninguém melhor do que a Tita para falar. Mas acho que um casamento tão durável é sintomático. Ele próprio respondeu a uma pergunta directa sobre o assunto, a Fátima Campos Ferreira, dizendo que não era novo rico, a gastar só por gastar. Mas no bom jornalismo, não se importava nada de gastar, e até nos estimulava a gastar em bons almoços, à sua custa, nos restaurantes mais caros. Não era por acaso que o Expresso tinha mais notícias que outros.