Vinagrete 18.09.20 – Os franquistas aos berros

Acho positivo a democracia espanhola querer acabar com o símbolo franquista e de guerra civil do Vale dos Caídos. Primeiro, porque já era hora de a democracia espanhola se ter tornado verdadeiramente democrática, apagando os laivos ditatoriais; depois, por ser uma forma de ver os franquistas a excitarem-se imenso.

Franquistas aos berros no Vale dos Caídos, Medium

Curiosamente, este facto coincidiu com o lançamento em Portugal de um livro sobre a transição, de uma tal Filipa Raimundo, chamado Ditadura e Democracia: Legados de Memória. Segundo uma entrevista ao Público da dita Filipa Raimundo, a transição espanhola, apesar de mais sangrenta e com maior número de mortos, passava por ter sido mais branda do que a portuguesa, erradamente. Não só pelos mortos, mas por em Portugal se terem julgado e afastado algumas figuras menores do antigo regime, enquanto outras maiores preferiram o exílio (nem todas; por exemplo, Américo Tomás, depois de uma breve estada no Brasil, veio acabar os anos em Portugal).

De qualquer maneira acho positivo esses franquistas, que tanto abominavam a democracia, aproveitarem as regras desta para defenderem as suas posições e o seu Caudilho (que por certo, confundindo o Estado com a sua conta pessoal, se dedicou a enriquecer demasiado, numa corrupção sem freio e ajudada pelos meios violentos da sua ditadura, deixando agora os descendentes preocupados). É o mesmo que no Brasil se passa com o candidato que apoia as ditaduras militares e medidas ferozes contra os opositores, mas de que os apoiantes parecem não compreender vê-lo tratado com a mesma violência que ele quer para os outros.

Em Espanha, já nos habituámos a ver os poucos franquistas que afinal existem a aparecerem cheios de si numas quantas manifestações em datas que celebram. Mas é bom vê-los agora a defenderem o Vale dos Caídos, uma verdadeira afronta à democracia.

De resto, já nem a Opus, democratizada em Espanha, lhes sobra. A não ser que se refugiem na portuguesa. E até no Vaticano, tirando as simpatias que conseguiram suscitar no polémico Pio XII, sempre foram execrados (parece que Pio XI dizia, bem, que se não gostava de ver republicanos perseguirem figuras da Igreja, também não gostava de ver franquistas matarem a maioria dos praticantes). E depois dele é o que se sabe, até ao slogan franquista de ‘Tarancón (o célebre cardeal de Madrid, com um papel muito activo no Vaticano II) al paredón’.

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