Tenho só de manifestar a minha perplexidade pelas certezas absolutas das pessoas quanto à Eutanásia, que deve ser rediscutida em breve oficialmente, como sempre querem os perdedores: uns são demasiado definitivamente a favor, e outros demasiado definitivamente contra.

Votação parlamentar da eutanásia
Claro que as certezas absolutas sempre me enervaram. São normalmente de pessoas que sabem muito pouco e que nem têm grande discernimento para perceberem nada. Parece-me particularmente feliz aquela frase, usada numa secção da revista do Expresso, do brasileiro Millor Fernandes, segundo a qual ‘os que têm muitas certezas é porque andam mal informados’. No fundo, é uma variante da Filosofia, desde a Antiguidade: desde quando Platão, talvez aludindo a Sócrates, quando começou a ter alguns conhecimentos, chegou a esta conclusão: ´Só sei que nada sei’. A frase foi-se apurando filosoficamente ao longo do tempo, até chegar a esta verdade inquestionável: ‘Quanto mais sei, mais sei que nada sei’.
Aqui está a razão de eu desconfiar de todos os que acham saber muito. Mesmo havendo quem ganhe muito dinheiro a dar ideia de que não tem dúvidas (o que é considerado uma qualidade no meio da estupidez empresarial). E mesmo conhecendo o ditado português que diz: ‘o teu filho que seja o inteligente, e o meu o esperto’. Parece que os inteligentes cultivam sempre a dúvida, enquanto os espertos nunca a sentem, nem a vêem.
Mas sobre a Eutanásia, mesmo os espertalhões, se não for por um excesso ideológico muito estúpido, como podem ter certezas? Eu não tenho nenhuma, nem gosto de falar no assunto. Quanto mais velho estou, e à beira de poder recorrer a esses instrumentos, menos sou capaz de pensar sequer em testamento vital. E já estou a ver alguns que me acham fraco e egoísta – talvez seja esta uma boa razão para se ser contra.
E há também os que se horrorizam com o sofrimento, e preferem abandonar tudo. Terei o direito de lhes chamar cobardes (ou covardes)? Acho que não.
Mas não tragam é a dignidade, seja qual for o seu significado, para aqui. Trata-se de outra coisa, que isso eu percebo bem.