Vinagrete 18.05.18 – Cultura subsidiada

José Amaral, presidente da Casa da Música, ex-administrador do BPI, ex-jornalista, ex-assessor económico de Belém (na presidência de Mário Soares) foi ontem o convidado do IDL (instituto do CDS) para falar da sua actual especialidade, a Cultura. E o seu financiamento (palavra que ele disse preferir, neste contexto, à de ‘subsídios’).

José Amaral na Casa da Música, Público

Lembrei-me de um Yes Prime Minister (série televisiva muito divertida da BBC), em que o primeiro-ministro, vendo Sir Humphrey de smoking para ir à ópera (era no tempo, que eu bem lembro, em que se ia à ópera de smoking), resolve anunciar-lhe que tenciona acabar com o financiamento das óperas. Sir Humphrey fez aquela cara dele de escandalizado, e não arranjou melhor argumento do que o seu prazer de ir à ópera, e de não ser possível montar um espectáculo destes sem financiamento público.

José Amaral, com todo o saber de presidente da Casa da Música e de banqueiro, confirmou que não é possível montar uma ópera sem financiamentos públicos. Da sua experiência pessoal, garantiu que a Casa da Música cobre apenas 25% das despesas (o que parece ser muito no sector) com meios próprios, que não pede ao Estado dinheiro para gastos imprevistos com material estragado de repente (diz manter orçamento para esses imprevistos), e elogia o Estado português por estar em minoria na administração da Casa da Música: o Governo nomeou apenas 2 administradores em 7, e a Câmara do Porto 1. Ele considera de resto que as grandes Câmaras, como a de Lisboa e do Porto, têm tantas responsabilidades, que não poderão dar atenção excessiva a um equipamento como a Casa da Música (o Porto tem ainda Serralves). Noto apenas isto: espectáculos como o futebol e as corridas de toiros, sem financiamentos públicos, e com bilhetes muito mais caros, conseguem sobreviver à grande. Amaral referiu sondagens, segundo as quais a resposta mais frequente dos inquiridos, sobre o motivo porque não frequentam espetáculos culturais (concertos, óperas, teatro), falam primeiro em desinteresse e falta de tempo, e só em último lugar em dinheiro ou careza.

De resto, frisou Amaral, a generalidade das óperas de São Carlos e dos teatros do D. Maria esgotam as suas sessões, dando-se ao luxo de deixarem de fora muitos possíveis espectadores, sem dinheiro para as assinaturas. De resto, são um dos grandes pontos de negocio do mercado negro (por experiência própria, não vejo outra maneira de arranjar bilhetes). Será que este luxo, de deixar espectadores de fora, só se justifica pelos tais financiamentos públicos (ou subsídios, para quem não se importar de preferir esta palavra)?

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