Na vida moderna, e desmentidas pelos liberais, temos ganâncias que arrumam qualquer sociedade. As mais em evidência são as ganâncias de Poder e de Dinheiro.
Quanto ao dinheiro, basta ver o que têm feito e repetido os banqueiros (mesmo logo depois de serem safos por um fio), perante a descrença dos seus apoiantes liberais, para percebermos.

Queda de Mugabe, Público
Quanto ao poder, recorde-se a dificuldade de afastamento de figuras como Ceaucescu e Mugabe (mas nestes casos, como noutros, é muito possível que o Poder seja encarado apenas como forma de ganhar dinheiro). Fixemo-nos nesse último, Mugabe, mais recente: os seus detractores, saídos das fileiras corruptas por ele formadas, até quiseram deixar-lhe uma saída pelo seu pé, e honrosa; mas ele não aceitou, preferiu apostar no tudo ou nada, e teve de acabar por ser arredado à força pelo Parlamento-fantoche que formou. E dou comigo a pensar que esta ganância, num ganancioso que nunca escondeu ao mundo por onde ia, me é mais simpática, do que se ele tivesse aceitado mudar à última hora, para se portar decentemente segundo padrões maioritários.
Ora ele preferiu ser igual a si próprio. Só vai ser compreendido pelos que o vão substituir, quando estes tiverem o mesmo Poder que ele, e forem igualmente desavergonhados (ou estaremos inesperadamente perante o aparecimento de novos Gorbatchoves muito democratas em Angola e no Zimbabwé? Neste último, dá ideia que não; em Angola, sabe-se lá…). Mal por mal, antes assim. Não seria bem entendida uma atitude decente de um homem com tão indecente falta de princípios. É horrível, mas ao menos não virou a casaca à última hora. Tiro-lhe o meu chapéu – sobretudo depois do seu afastamento. Claro que não deixou de aproveitar a última ocasião (no fundo virou mesmo a casaca, mas à sua maneira, garantindo as mordomias que roubou ao Estado e a sucessão pelos vistos se prepara para também o fazer) em que podia receber garantias de imunidade para todos os disparates que cometeu, e para o seu empenho enriquecedor e corrupto. Mas fê-lo mesmo à última, e no Parlamento.