Vinagrete 17.10.06 – Rei de Espanha dá razão a republicanos

A ‘excepcional’ intervenção do Rei de Espanha, 3ª-feira passada, sobre a Catalunha, só veio dar razão aos argumentos republicanos.

Bem sei que Espanha tem fama de ter aderido mais ao juancarlismo imposto pelo seu pai a seguir ao franquismo, do que à Monarquia. E que este Felipe VI deve estar por isso agradecido ao seu empático (coisa que ele próprio nunca será) pai.

 

Fotografia do CM

Vem isto a propósito, claro, da Catalunha. Já aqui disse que, até por razões históricas, e por termos a sorte de não sermos a 5ª região espanhola mais rica em 18 – devendo portanto ainda dar mais às outras que me merecem grande simpatia – devemos bastante a essa Catalunha, que fez o seu hino nacional quando nós restaurámos a nossa independência (perante um Rei que quis substituir a legalizada União Real por uma anexação com Espanha). Ora Espanha até me parece muito simpática comparada com Castela (demasiado imperialista e avessa ao

trabalho, que se habituou a viver dos nórdicos da Península, como os catalães e os bascos). Percebo que a maioria dos meus amigos catalães, passe o seu forte instinto autonómico, eram menos pró-independência do que eu. Mas a falta de jeito de Rajoy para lidar com o problema, e a sua aposta exclusiva na confrontação, pô-los a todos mais pró-independentistas. Afinal, eles pertencem a uma nação mais una e com uma cultura muito forte, ao contrário de Castela – que embora possa ser nação pobrezinha e necessidada de se pendurar noutras, não tem cultura quase nenhuma.

Devo dizer que há muito esperava do Rei uma intervenção equilibrada, que pusesse água na fervura. Mas tinha pensado que o Governo inviabilizara essa hipótese, impondo-lhe silêncio. E entendia então assim a incapacidade de acção de Felipe VI, pensando que se houvesse ali um Presidente da República essa capacidade seria bastante maior.

Quando vi Bagão Félix apelar a uma intervenção do Rei no Público, achei que ele não estava a perceber estas limitações

Fotografia do Expresso

monárquicas, perante os seus governos.

Mas depois de ouvir Felipe VI deitar gasolina na fogueira, em lugar de aparecer com propostas equilibradas de aproximação (que todos esperavam dele), percebi como o Rei de Espanha não hesitara em diminuir mais a instituição que representa, e o seu papel, só para apoiar a política comprovadamente suicida de Rajoy. Limitou-se a repetir as posições de Rajoy, que talvez o resto de Espanha (não catalão nem basco) prefira à saída da Catalunha.

Só insistir em mais uma coisa: a autonomia da Catalunha ou a independência não são questões legais (o legalismo torna Olivença portuguesa), mas políticas. Isto serve como admoestação não só a diversos comentadores impreparados, mas também ao Rei de Espanha. E já se sabe que num processo de independência, atitudes como a da Fitch (que talvez passe a Catalunha para ‘perspectiva negativa’) ou a das empresas que abandonam a sede de Barcelona sem se atreverem a ir para Madrid, seja alguma coisa com que se conte à partida. O dinheiro tem as suas próprias regras, alheias ao direito e à política.

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