Vinagrete 17.04.21 – Cavaco anda mal informado

Livro de cavaco, fotografia do DN

Esta ideia de que a sabedoria suscita mais dúvidas do que certezas vem já da antiguidade.

Há aquela célebre frase, ‘só sei que nada sei’ ou ‘sei uma coisa: que eu nada sei’, que se diz ser atribuída por Platão a Sócrates. A Wikipédia admite que se trate de uma resposta que se supõe Sócrates ter recebido da sacerdotisa, no Oráculo de Delfos.

O Expresso usa hoje numa das secções da sua Revista semanal, a Fisga, outra sábia frase feita do género: ‘Quem sabe tudo é porque anda muito mal informado’.

Entre estas duas sentenças de lucidez, a filosofia, como ciência do saber, foi apurando, desde os tempos longínquos da antiguidade (em que ainda assim era possível reunir mais facilmente o saber da época, em menos quantidade de espaço escrito ou cerebral), esta ideia parecida: ‘quanto mais sei ou sabemos, mais sei ou sabemos que nada sei ou sabemos’.

Diria que o defeito do último livro de Cavaco Silva (o pós presidencial) é ele mostrar que na vida aprendeu pouco, e sabe pouco. Daí manter a posição de que sabe tudo. Continua como nos tempos da célebre frase ‘raramente tenho dúvidas e nunca me engano’, ou ‘raramente me engano e nunca tenho dúvidas’. Para o caso é igual: mostra de qualquer modo que anda muito mal informado.

Pode ser o problema do economista – que passa a vida a fazer previsões erradas, e precisou da invenção da Meteorologia para parecer exercer uma ciência exacta.

E no entanto, acho há muito tempo que ele foi o melhor primeiro ministro que Portugal teve desde a formação do Reino, há mais de 800 anos – apesar de se lhe poder assacar o próprio ‘monstro’ orçamental que ele denunciou, como principal responsável pelo alargamento dos quadros da Função Pública. Talvez por causa de intuições acertadas, por sorte, como

Cavaco com Lima, fotografia da TVI24

sucede com os bons empresários, também mal informados, e também com a mania que sabem tudo. Uma boa intuição é uma coisa excepcional. Dá mais vantagens do que a sabedoria.

Agora o seu último livro, apesar de alfinetadas aparentemente certeiras a Sócrates (nomeadamente a ideia, que me parece genuína, de Cavaco o achar demasiado ‘liberal’ e pouco preocupado com as questões sociais), e passando a parte obviamente errada (em que nega ter partido do seu assessor Fernando Lima o que o seu assessor Fernando Lima reconhece ter feito em livro próprio), o resto parece ser uma forma terrível e inconsciente de contar como foi tantas vezes enganado por tantos.

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