
Almaraz, fotografia do JN
Suponho que foi Felipe González, ou então algum embaixador europeu da época em Madrid, que a propósito da 1ª Guerra Iraque-EUA, Saddam-Bush-pai, dizia ser o problema uma falta de entendimento por divergências radicais na linguagem: quando Bush afirmava estar a pensar talvez enviar tropas para o local, estas já iam a caminho; e quando Saddam ameaçava com a mãe de todas as guerras, nem sequer pensava ainda em mandar disparar um tiro.

Matos Fernandes a explicar Almaraz, fotografia da RTP
Nos meus 14 anos na Embaixada de Portugal em Espanha, concluí haver uma divergência semelhante nas linguagens de Madrid e Lisboa: enquanto nós somos mais europeus (talvez excessivamente, e mais do que europeus, em alguns casos), ocidentais e contidos, os castelhanos mostram-se demasiado árabes com afirmações esdrúxulas. Suponho residir aqui a maior dificuldade de entendimento entre os 2 países, de resto amigos, e em que as elites superiores (neste caso, o Rei, por exemplo) espanholas já se esforçam por usar uma linguagem mais europeia. No entanto o excesso afirmativo tem dado resultados positivos a Madrid, sobretudo perante os portugueses exageradamente mais contidos, e por isso o continuam a usar. Ou porque pensam que os empresários espanhóis se dão tão razoavelmente bem em Portugal, e não no resto do mundo ocidental?

Ministra do Ambiente espanhola, Isabel Garcia, fotografia da EFE
Vem isto a propósito de Almaraz. O ministro Matos Fernandes é todo contenções de linguagem e educação. Os espanhóis alternam o sistema alarve (o chamado ‘pau’), com umas ‘cenouras’ de contenção (as intervenções do Rei, por exemplo). E assim chegaram a este momento em que impediram Lisboa de avançar mais cedo com uma queixa a Bruxelas por causa de Almaraz (eles que ficassem sozinhos com as vantagens e desgraças do nuclear, deixando-nos a nós fora de tudo), e agora não sabemos se ainda haverá tempo de impedir o pior. Tanto mais que a população de Almaraz só vê o imediato, os empregos, e não pensa no mais complexo, os perigos (em casa onde não há pão…’).