
Fanny Owen, como aparece na capa do livro de Agustina, tirada do filmenFrancisca de Oliveira, fotografia de porto-desaparecido.pt.
Fanny Own foi figura trágica do Século XIX portuense, foi mesmo uma trágica rodeada de tragédias fatais, e resultou em romances de Camilo Castelo Branco (de resto, parte interessada na História), de Agustina Bessa Luís, e filme de Manoel de Oliveira baseado na história narrada por Agustina. (chama-se o filme ‘Francisca’, que seria o verdadeiro nome da menina).
E quando falei em tragédias, nem exagerei. Independentemente dos romances e do filme, o caso é transcrito numa biografia oficial de Vale Paraíso, em Vila Nova de Gaia, onde a família Owen residia, e para onde se mudaram o marido, ainda adulador e solteiro, e o escritor. Começaram por namoriscar a irmã mais velha, Maria, e depois fixaram-se nela. O romance de Agustina, e o filme de Oliveira, mostram mesmo uma disputa brava entre o futuro marido e o escritor, pela paixão da pequena. Porque ambos se viraram depois de Maria para Fanny (Francisca).
Ora o pai desta tinha sido um inglês (ou escocês, ao que parece mais exactamente) do Porto, que fez parte dos apoiantes liberais de D. Pedro na cidade. E o marido, Magalhães, era um daqueles fidalgotes-morgados quase falidos mas que nada faziam, e que abundavam pelo Douro cheios de um

Fanny Owen, fotografia do Twitter
fanatismo miguelista.
Quando a pequena aceitou casar, por causa da oposição da família, Magalhães resolveu começar por raptá-la, para casar segundo todas as regras na capela de sua casa (ou do irmão, não sei bem). Mas ká que pretendia a coisa séria, isso á dado adquirido. O facto é que, entre o rapto e o casamento, chegou ao conhecimento de Magalhães (há quem diga que por iniciativa de um Camilo inconformado) que a menina enviara cartas de amor a um espanhol, quando já andava conversada do português. Ora este, numa noção de honra da época e da sua classe, acabou por casar, mas abandonando a pequena em sua casa – e dando-se ele às estúrdias das amantes portuenses. Aparentemente pelo respigar de doença antiga, Fanny acabou por morrer dolorosamente em casa, de uma daquelas enfermidades muito apropriadas para as meninas românticas novecentistas, e que hoje veríamos mais como um horrível cancro, a precisar de cuidados paliativos. Depois de Fanny morta, uma

Fanny Owen com o marido, no filme Francisca, fotografia de pertempus.blogspot.com
autópsia superficial revelou que ela era ainda virgem.
Magalhães, desesperado de remorsos, terá guardado o seu coração na capela da casa, e rumou para Lisboa, tentando saber de um irmão dela tudo o que se passara com ela. Em Lisboa, morreu de uma dose de ópio (que, segundo se diz, nem era superior às que ele costumava tomar para desfastio lá pelo Norte caseiro). Crime? Isso não conta para a história da enorme tragédia.
O filme de Oliveira, e provavelmente o livro de Agustina, termina com Camilo a dizer que os fará morrer, num romance que eventualmente vier a escrever sobre o caso, de ‘morte cerebral’ – doença mais bem aceite e apreciada pelos leitores.