Gaspar a anunciar em 2012 o ‘maior aumento de impostos, fotografia da RTP

Li há dias um empresário num jornal acentuar que tinha sido o anterior Governo o campeão dos impostos, o autor dos maiores aumentos de impostos em Portugal, e não compreender portanto a campanha que sobre o assunto fazem PSD e CDS neste momento. Pessoalmente eu, e quase toda a gente que conheço, pagámos o ano passado muito menos impostos. E quem não pagou menos, é porque tem a felicidade de viver com bastante dinheiro (o que não é crime, e parece mesmo muito agradável e confortável, até porque vai sobrando o suficiente).

Claro que em Portugal, quando vemos aumentos de impostos, puxamos logo das pistolas (se não temos, como eu não tenho, puxamos de outra coisa qualquer, pelo menos simbolicamente) que temos, porque estamos habituados a ver a eficácia fiscal reduzir a nada a classe média, esquecendo a justiça fiscal. Isso mesmo, se bem se lembram, sucedeu no Executivo anterior. Quem não recorda Vítor Gaspar, ex-

Mariana Mortágua a disparatar sobre o património, fotografia do Expresso

ministro das Finanças, anunciar em 2012 um “enorme aumento de impostos” para 2013?

De modo que, por aqui, estamos conversados. Se este Governo não faz diferente do anterior, cilindra-nos. Se faz diferente, é cilindrado pelo PSD e CDS como se o não fizesse. Claro que a Direita prefere os impostos indirectos que levam toda a gente a eito e por igual, enquanto a esquerda vai por uma maior justiça fiscal, nos menos populares impostos sobre rendimentos altos.

O novo imposto sobre imóveis caros parece até bastante justo. Aparentemente, vai ser apenas sobre imóveis avaliados pelo Estado (e não a preço de mercado, o que seria mais) em para cima de 1 milhão de euros. Não consta que vise acabar com a poupança ou com o normal

Prédios de luxo, fotografia de top10mais.org

enriquecimento das pessoas que conseguem enriquecer neste pântano, mas trazer apenas uma natural e óbvia justiça fiscal (nem interessando aqui se é muito eficiente ou não, porque a eficiência fiscal, só por si, é demasiado injusta, e mais de acordo com Passos Coelho). Claro que não pode ser uma Mortágua qualquer a criar alarme público e dar armas à Oposição, com anúncios verdes e não amadurecidos. Neste aspecto, o PCP continua a mostrar ser um partido com mais experiência e, portanto, mais sério também. E a verdade é que os ricos nunca pagaram crise nenhuma, até porque os governantes ficam deslumbrados com eles, e lhes permitem quase tudo.

E Marcelo? O PR já se pronunciou contra o bisbilhotar de quaisquer contas de valor superior a 50 mil euros. Este caso parece-me francamente mais grave. Embora eu saiba que em quase todos os países da Europa, sobretudo os governados pela Direita, as Finanças têm acesso aos dados bancários. Talvez valha a pena mantermos a nossa originalidade, pelo menos enquanto estivermos livres de Passos. Pessoalmente, confio mais em Marcelo Rebelo de Sousa do que em Passos Coelho.