Burkini: o pomo da discórdia

Burkini quase sexy, fotografia de metro.co.uk

Fotografia de qz.com
Gostava francamente de não lançar achas para esta fogueira. Como Ocidental que sou, vejo o assunto de um ponto de vista relativamente liberal, e é-me bastante indiferente se uma mulher usa ou não burkini, burka (houve até quem dissesse que antigamente as freiras ocidentais usavam um traje muito próximo deste; mas enfim, lá evoluíram, como todos nós, aqui pelo Ocidente), ou qualquer outro farrapo similar similar. Percebo que são formas de humilhar e menorizar as mulheres por parte de civilizações inseguras e ciumentas, que querem em que os homens querem ter alguma vantagem (como antigamente os brancos mais miseráveis que faziam questão em ser esclavagistas). Mas se elas não se importam, porque hei-de ser eu a importar-me.
Não tem sido esse o entendimento dos republicanos laicos franceses, de esquerda ou direita. Ainda recentemente, 3

Freiras de antigamente, fotografia de julearauju.blogspot.com
presidentes de câmaras franceses proibiram os burkinis em praias do seu território (Villeneuve-Loubet, Cannes e Bastia, na Córsega). o primeiro-ministro do Governo de França, Manuel Valls, alinhou com os proibicionistas, dizendo estar a defender os princípios da República laica. O direitista Sarcozi, ressurgido numa candidatura anunciada à Presidência de França, esteve nisto com ele. O ministro do Interior, Bernard Cazeneuve, defendeu o contrário. E depois houve a decisão do Supremo Tribunal francês, contra as autarquias beligerantes.
Como é típico cá pelo Ocidente, e em Portugal também, as posições surgem por revoadas. Ora a favor, ora contra uma medida. Neste caso, só gostaria de lembrar que nenhuma mulher ocidental pode andar pelos países muçulmanos (e não fala só dos mais radicais, embora excluam alguns poucos tolerantes) sem respeitar as normas locais para vestimenta feminina. Não há cá as liberdades daqui. Também essa é uma das razões porque prefiro andar por aqui: para termos as ditas liberdades.
Mas quanto a estes assuntos, tão depressa aproveitados pelo integrismo muçulmano para aproveitar as divisões no

Designer Aheda Zanetti, fotografia de twitter.com
Ocidente, não peço que se tome esta ou aquela posição, mas que se respeita as posições tomadas. E não surjamos divididos perante a loucura óbvia dos integristas (sejam eles muçulmanos ou outra coisa qualquer – porque ‘les beaux estrits se rencontren’)). Da Aheda Zanetti, que nasceu na Líbia e vive na Austrália onde é designer de roupa para mulheres muçulmanas (devendo até ter enriquecido com o expediente), que criou e desenhou o burkini em 2004 para o surf lá onde vive. E acrescenta até que o criou para dar liberdade às mulheres e não para as oprimir.
E já viram as coberturas que vêm da Ásia por causa dos malefícios do sol? Qualquer dia andamos todos na praia, aqui pelo Ocidente, homens e mulheres, de burkini. Mas por amor de deus não se dividam nestas coisas. Pensem bem antes de decidirem. E percebam que a democracia traz sempre agarrada esta mediocridade geral de absoluta necessidade de afirmação (contrária e supostamente original) por parte dos manos dotados.