Os Jogos Olímpicos são dos atletas

Fotografia de ubaita.com

Primeira equipa portuguesa com Medalha Olímpica, na modalidade equestre, em 1924, fotografia de cavaloseequitacao.blogspot.com

Lembram-se do escândalo nacional, há uns anos atrás, por Portugal ter regressado de uns Jogos Olímpicos, penso que dos de Barcelona (1992), sem nenhuma medalha? Recordam a unanimidade nacional, incluindo a imprensa, nessa indignação colectiva?

Já se sabe haver países que têm políticas estatais em geral, e no desporto em particular, de modo a apoiarem os seus atletas quase como se fossem funcionários públicos. Já não vou falar dos Estados supostamente comunistas ou soviéticos. Ou mesmo de um certo fascismo, de que o estatismo fazia parte. Por exemplo, em Espanha, a democratização nunca chegou a ser tão radical como a portuguesa, nem sequer tiveram uma revolução, pelo que os estatismo franquista se mantém em muitos aspectos, incluindo o desportivo (não é milagre o sucesso desportivo que Espanha tem em tantas modalidades, apoiadas muito de perto pelo Estado).

Desta vez, perante a única medalha de bronze trazida do Rio de Janeiro (por Telma Monteiro, no judo), portámo-nos

Telma Monteiro no Rio, fotografia de comiteolimpicoportugal.pt

melhor. E até admitimos que o Presidente da República acabe por fazer comendadores alguns que tiveram apenas diplomas por estarem nos 6 primeiros lugares (o diploma será alguma nova espécie de medalha olímpica?).

A medalha de Bronze conquistada por Telma Monteiro no Rio de Janeiro aumentou para 24 as medalhas conquistas por Portugal em todo os Jogos Olímpicos da era moderna. No total, são quatro medalhas de Oiro, oito de Prata e 12 de Bronze.

Nas Modalidades, o Atletismo é o que oferece mais medalhas (10), seguido de Vela (4) e Equestre (3).

Lista de Medalhas de Portugal:

Éramos senhores na esgrima em 1928, fotografia de museuvirtualdodesportoportugues.blogspot.com

– 1924 – Paris (estreia): Equestre (Prémio das Nações): Bronze (Aníbal Almeida, Hélder Martins, José Mouzinho de Albuquerque e Luís Cardoso Menezes);

– 1928 – Amsterdão: Esgrima (Espada por equipas): Bronze (Paulo d’Eça Leal, Mário de Noronha, Jorge Paiva, Frederico Paredes, João Sasseti e Henrique Silveira);

– 1936 – Berlim: Equestre (Prémio das Nações): Bronze (Luís Mena Silva, Domingos Coutinho e José Beltrão);

– 1948 – Londres: Equestre (Ensino por equipas): Bronze (Fernando Paes, Francisco Valadas e Luís Mena Silva)

Vela (Swallow): Prata (Duarte Bello e Fernando Bello);

– 1952 – Helsínquia: Vela (Star): Bronze (Joaquim Fiúza e Francisco Andrade);

Rio, fotografia de esportemidia.com

– 1960 – Roma: Vela (Star): Prata (Mário Quina e José Quina);

– 1976 – Montreal: Atletismo (10.000 m): Prata (Carlos Lopes)

Tiro (Fosso olímpico): Prata (Armando Marques)

– 1984 – Los Angeles: Atletismo (Maratona): Oiro (Carlos Lopes)

Atletismo (Maratona): Bronze (Rosa Mota)

Atletismo (5.000 m): Bronze (António Leitão)

– 1988 – Seul: Atletismo (Maratona): Oiro (Rosa Mota);

Fotografia de rio2016.com

– 1996 – Atlanta: Atletismo (10.000 m): Oiro (Fernanda Ribeiro)

Vela (470): Bronze (Hugo Rocha e Nuno Barreto);

– 2000 – Sydney: Atletismo (10.000 m): Bronze (Fernanda Ribeiro)

Judo (-81kg): Bronze (Nuno Delgado);

– 2004 – Atenas: Atletismo (100 m): Prata (Francis Obikwelu)

Ciclismo (Linha em estrada): Prata (Sérgio Paulinho)

Atletismo (1.500 m): Bronze (Rui Silva);

– 2008 – Pequim: Atletismo (triplo-salto): Oiro (Nelson Évora)

Triatlo (prova individual): Prata (Vanessa Fernandes);

– 2012 – Londres: Canoagem (K2 1.000 metros): Prata (Fernando Pimenta e Emanuel Silva);

Carlos Lopes, fotografia de comiteolimpicoportugal.pt

– 2016 – Rio de Janeiro: Judo (-57kg): Bronze (Telma Monteiro).

Conclui-se que começamos pelas modalidades menos democráticas, e em que os atletas tinham de provir de classes mais abastadas para se distinguirem em Portugal: equestre (1924, 36, 48), esgrima (1928) e vela (1948, 52, e 60 – embora repetíssemos este apartado já em democracia, e com maiores apoios estatais, em 1996); na época democrática começamos nas modalidades próprias dos pobrezinhos (atletismo, várias vezes, judo, 2 vezes, e ciclismo, 1). O tiro é uma espécie de excepção que confirma a regra, e deu prata em 76 a Armando Marques (um homem de Algés que já tinha

Fotografia de jornalacores9.net

ganho em 74, a Medalha Olímpica Nobre Guedes (atribuída anualmente pelo Comité Olímpico de Portugal).

Ficámos agora satisfeitos por o Brasil e ter saído bem, no meio de uma crise política impressionante. Por termos assistido a ttriunfos tão relevantes e esperados como os dos veteranos Usain Bolt e Michael Phelps. E por ocuparmos na classificação geral uma modesta 78ª posição (das piores participações de sempre e a pior desde 1992, em Barcelona), em que ainda assim pudemos enfiar o sururo do orgulho pelos nossos representantes ciclistas, do Triatlo, do ténis de mesa, da canoagem e de saltos em hipismo, para não falar nos atletas Nelson Évora e Patrícia Mamona. E na Medalha de Bronze da Telma Monteiro, claro.

Mas enfim, os Jogos são deles, dos atletas, e nós, tão liberais no resto, devíamos sempre ter reconhecido isso. O seu mérito ou o seu fracasso é o que torna o Jogos excitantes para nós todos.