Praias da Caparica: o boom permitido pela Ponte

Antigamente, na caparica, fotografia de almada-virtual-museum.blogspot.com

Antigamente, na caparica, fotografia de almada-virtual-museum.blogspot.com

Pode-se dizer que as Praias da Caparica apareceram depois da inauguração da Ponte Sobre o Tejo, em 1966. Claro que já existiam, e eram até um paraíso maior do que agora. Mas nessa altura o acesso era difícil. Iam umas quantas pessoas de maiores posses aqui da capital, que atravessavam o rio com o carro no barco (e nessa altura pouca gente tinha automóvel em Portugal), e alguns da margem Sul subiam até àquelas praias paradisíacas.

Almada estava já muito industrializada, e era até palco das maiores movimentações sindicais em Portugal, mas não tinha praias que não dessem completamente para o Rio. E a Costa da Caparica era uma pequena povoação de pescadores. Algumas famílias abastadas iam lá deslumbrar-se a brincar aos pobrezinhos, como disse há não muito tempo Cristina Espírito Santo (filha do falecido Jorge Espírito Santo), ao Expresso, a propósito da Comporta, e numa boa comparação (excluindo o excesso de mosquitos da

Ponte inaugurada em 1966 'aproximou-a' de Lisboa, fotografia de ic2ar.com

Ponte inaugurada em 1966 ‘aproximou-a’ de Lisboa, fotografia de ic2ar.com

Comporta).

Por exemplo, as Noronhas de Évora (como outras abastadas famílias alentejanas) alugavam ali umas três casas de pescadores, na primeira linha da praia. E nesse tempo ainda se podia ir para a principal praia da povoação.

A Fonte da Telha, lá muito mais para diante, era um paraíso ainda maior.

Depois da Ponte, e com a ida em massa dos lisboetas para aquelas praias, a zona foi-se degradando. Pode parecer estranho que um regime tão autoritário como o que vigorava então em Portugal tivesse deixado degradar tanto, urbanisticamente, uma zona. E no entanto consta que foi propositado. Com os seus areais imensos e branquíssimos, ainda por cima receitados pelos médicos,

Casa de veraneio na Caparica anterior à Ponte, fotografia de ruinarte.blogspot.pt

Casa de veraneio na Caparica anterior à Ponte, fotografia de ruinarte.blogspot.pt

a graça da Caparica, as águas do mar pacatas, e a beleza de toda a zona envolvente, havia o temor de que se fizesse ali uma estância balnear completamente concorrente da Costa do Estoril, então muito na moda e promovida pelo Poder reinante. Enfim, a Costa da Caparica já é cidade desde 1994, e toda aquela zona de praias está suficientemente espatifada para não se falar em resorts balneários.

Temos hoje ali as praias mais perto do rio, junto á Trafaria, as de São João. Há uns anos, António Cardoso Ribeiro, do Spianata (à Álvares Cabral), abriu ali uma praia com apoio dado por uma esplanada com o mesmo nome, que se tornou imediatamente de moda. Tendo acabado essa, hoje há por lá uma daquilo a que o Vasco Graça Moura chamaria com a sua graça portuense snob da ‘lowest meadle class’, a Bicho de Água.

Actual degradação urbana, fotografia de imoveis.mitula.pt

Actual degradação urbana, fotografia de imoveis.mitula.pt

Mas é do lado do mar que ficam as melhores praias, a seguir ao popularíssimo (no mau sentido, evidentemente, e sem querer arriscar-me a pôr em causa os meus pergaminhos democratas em tudo o que não seja estética) parque de campismo, a para as quais se pode ir pelo comboio das praias da Caparica, o Transpraia (em serviço desde 1960): a da Mata, Riviera, Castelo, Rainha, Pescador, Sereia, etc. E por aí fora, até à Fonte da Telha. Já houve tempos em que a Praia do Castelo era a da alta sociedade lisboeta. Mas hoje, com a filha do concessionário feita actriz de telenovela, este ganha seguramente muito mais dinheiro, continua a vender peixe bem assado, mas perdeu as cumplicidades de outras eras. E os lisboetas de maiores recursos lá têm de se acotovelar mais com o resto da população nas outras praias, como a Riviera ou a Morena, logo desde os estacionamentos.

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