
S. João do Estoril, restosdecoleccao.blospot.com
Antigamente, aí pelo Século XIX, na zona de Lisboa e na Linha do Estoril, a praia realmente in era a de Pedrouços. É sobre ela que fala entusiasticamente Ramalho Ortigão no seu livro sobre as praias de Portugal.
Nos finais do século XIX e princípios do XX, tiveram o seu apogeu as praias de Pedrouços, da Torre de Belém e da Cruz da Pedra, na zona ribeirinha do Tejo. O areal do limite sul do sítio de Pedrouços era o seu grande motivo de fama na 2ª metade do século XIX, já que depois de Belém era a praia dos arrabaldes de Lisboa mais procurada pela aristocracia, pela alta burguesia e até pela intelectualidade da época. Existem referências para o ano de 1873 da presença nesta praia da Viscondessa de Algés, do Conde de Casal Ribeiro, de Fortunato Chamiço e de Eça de Queirós, com as suas famílias. Mandava-se bater uma tipoia a Pedrouços, até para uma boa e chique ceia, como hoje se pegaria num carro para São Martinho do Porto ou, antes da falência do GES, para a Comporta.
A moda da praia e dos banhos em Lisboa teve início em meados do século XIX, e por indicação dos médicos que

DF. carlos na Cidadela de Cascais
prescreviam às crianças os vinte e um banhos, os três mergulhos e os choques de sete ondas para que estas crescessem e fossem fortes. A praia de Pedrouços era o local de destino, arrabalde da cidade, considerado o «campo e a praia com bons ares», e cuja fama dos milagres terapêuticos dos banhos curavam os mais variados males, tudo associado à boa frequência das chamadas ‘melhores famílias’, muitas das quais lá tinham casa.
A aldeia de Pedrouços tinha como população os saloios e as lavadeiras e pelo Verão chegava a aristocracia de Lisboa, que procurava a praia e habitava as suas quintas e palácios.

Praia do
Tamariz, fotografia de resgosdecoleccao.blogspot.com
No dia 31 de Agosto de 1901, foi inaugurada a primeira linha de carros eléctricos que ligava o Cais do Sodré a Algés, e mais tarde a linha do comboio prolongar-se-á até Cascais. A rica burguesia de Lisboa invadiu assim o local usufruindo também da praia, alugando as casas que por essa altura se começaram a construir, sendo muito conhecida a Vila Cândida, uma fila de casas semelhantes às dos bairros operários para alugar aos banhistas (já nessa altura havia a ideia de ‘brincar aos pobrezinhos ‘na praia). O ritual começava pela manhã, quando as famílias bem cedo tomavam os seus banhos e se recolhiam a casa pela hora do almoço. As senhoras usavam um maillot com umas pequenas calças e com mangas, e quando tomavam banho usavam uma capa ou lençol de banho, com o qual mergulhavam e se recolhiam às barracas improvisadas de pinho cru e pintadas às listas por fora, onde trocavam de roupa.
As crianças eram acompanhadas pelos banheiros que cumpriam rigorosamente as ordens dos pais, e lhes davam os três mergulhos da saúde. Pelo almoço, a burguesia improvisava um farnel e a aristocracia recolhia a casa para a sesta e para os passeios de fim de tarde. Pela noite, o serão, não tinha bailes ou casino, mas sim guitarradas e serenatas, jogava-se o loto e as senhoras exibiam os seus melhores vestidos.
Em 1915 a praia de Pedrouços vai perdendo os seus banhistas que se espalham por Cascais e Sintra, destino já preferencial do

Antigo cartaz da praia do Estoril, imagem de pt.pinterest.com
rei D. Carlos que arrastou a aristocracia para estas novas paragens. Por esta altura, a Trafaria e a zona da Caparica são também descobertas e frequentadas pelos lisboetas que podiam dispensar a Ponte (surgida só em 1966), ou por gente da Margem Sul.
Ora foi precisamente a Cidadela de Cascais, de que o ex-Presidente Cavaco Silva cedeu uma parte para a construção de uma pousada (inaugurada em 2012), que o Rei D. Carlos escolheu para residência real (e passou depois a presidencial) de férias de Verão.
A Cidadela começou como uma primitiva fortificação, erigida por ordem de D. João II. Seria depois ampliada por decisão de Felipe II de Espanha e I de Portugal, passando a chamar-se Forte de Nª Sª da Luz de Cascais.
Resumindo, a Cidadela começou a ser utilizada como residência de veraneio da Casa Real a partir de 1870. E chegou a ser habitada por vários Presidentes da República Portuguesa – de Manuel de Arriaga a Bernardino Machado, na I República, ou Óscar Carmona, que aí fixou residência oficial, durante o Estado Novo. Fica hoje colada ao Clube Naval de Cascais, por um lado, e à Marina, por outro lado.

Praia de Pedrouços, fotografia de paixaoporlisboa.blogs.sapo.pt
Puseram-se então de moda as praias de Cascais. Mais tarde, as pessoas procuraram as da Linha, mas já no mar, a partir da Torre e de Carcavelos, deixando de vez a praia de Pedrouços. Já no fim do Salazarismo, com Manuel Mayer a ficar concessionário do Tamariz, esta torna-se a praia verdadeiramente in da zona. Hoje, claro, com a Quinta da Marinha urbanizada, quando o vento o permite (o que é raro no Verão), as praias do Guincho são Rainhas.