São Martinho do Porto era o bidé das marquesas

Baía de São Martinho, fotografia de custojusto.pt

Baía de São Martinho, fotografia de custojusto.pt

«Meninas não queiram praia / que seja perto do mar / basta arregaçar a saia / p’ra uma mulher s’afogar».

Esta velha canção da terra diz tudo sobre ela. E a ironia é plenamente justificada. De resto, a baía, certamente linda para ver do janelão do restaurante A Casa (as vistas são mais bonitas quando terminam no porto, do que a partir daí), e com areias brancas na praia, tem água mais suja que se possa imaginar. Parece um lodaçal castanho, que arrepia e afasta.

Mas a praia está de facto aqui afastada do mar pela baía, cuja pequena reentrância mantém a calma das águas. A sujidade provinha em grande parte do rio Salir, e talvez de umas fábricas que pelo seu caudal tinha o grupo Mendes Godinho. Depois foi a moda das pocilgas, e adeus Baía.

Um homem da terra, José Adolfo Pinto Eliseu, que foi secretário de Estado das Obras Públicas de Marcello Caetano,

São Martinho antigo, fotografia de origens.pt

São Martinho antigo, fotografia de origens.pt

ainda mandou para lá umas dragas que limparam um bocado a Baía, sobretudo se tivermos em conta que logo a seguir o porto da nazaré, obra de Mário Soares, desviou dali um gruopo de traineiras que lá se abrigavam, e por lá muito lixo deixavam.

São Martinho do Porto é uma freguesia portuguesa do concelho de Alcobaça, com 14,64 km² de área e 2 868 habitantes (censo de 2011). Compreende, para além do lugar de São Martinho do Porto, a Serra dos Mangues e Vale do Paraíso. A população tem vindo a crescer acentuadamente, desde o Séc. XIX.

A região constituída pela serra da Pescaria e pela serra do Bouro foi, em tempos geológicos, uma única ilha. Tendo-se dividido, é que deu origem à baía de São Martinho do Porto.

A Marginal, asfixiada, de São Martinho, fotografia de portugalsemfim.com

A Marginal, asfixiada, de São Martinho, fotografia de portugalsemfim.com

A povoação é mencionada pela primeira vez numa Carta de Foral passada em 1257 por Frei Estevão Martins, 12º abade do Mosteiro de Alcobaça. A baía foi porto de mar dos coutos de Alcobaça, onde se desenvolviam atividades ligadas à pesca e à construção naval. Foi vila e sede de concelho até 1855.

Pertence ao concelho de Alcobaça (que deixou espatifar a terra na vertigem do betume em cima da Baía), e é sua praia de luxo.

Em meados do Século XIX construiu-se ali o cais, e a vila ficou dividida em 2 núcleos: a parte alta e mais velha, onde predomina a Igreja Matriz do Séc. XVIII (há também lá no alto a capela de Stº António, muito despojada, e com boas vistas sobre o mar, mesmo fora da barra, onde consta que vinham as mulheres dos pescadores esperá-los em dias de tempestades), e a zona baixa balneária e turística.

A estância balneária afirmou-se francamente no Séc. XIX, passando a ser frequentada pela nobreza e pela alta burguesia, e

Foz do rio Salir

Foz do rio Salir

ficando conhecida como o ‘bidé’ das marquesas.

Ora este qualificativo de ‘bidé’ já pode dar uma ideia exacta do que seria a sujidade da baía há muito tempo.

As ruínas de Salir do Porto lembram a Alfândega artesanal onde foram construídas as caravelas que participaram nas descobertas e conquistas, nos reinados de D. Afonso V e D. João II. Aqui foram também construídos parte dos navios que levaram D. Sebastião a Alcácer Quibir. Mas isso era no tempo em que se diz que as ágias da Baía eram muito mais profundas, e chegavam a Alfeizerão.

A Pocinha (em Salir do Porto) é uma nascente de água doce junto ao Oceano, cuja água se crê milagrosa para inúmeras enfermidades.

Praia da Baía, fotografia de rotasturisticas.com

Praia da Baía, fotografia de rotasturisticas.com

De notar também a Duna grande de Salir do Porto, em tempos a maior da Europa, a sobressair na paisagem com uma altitude de aproximadamente 50m e outros 200m de comprimento. O núcleo da Duna é constituído em parte por um arenito vermelho, vestígio de uma duna mais antiga – Duna fóssil.

Hoje, quem tem carro, e não fica com remorsos de pôr em perigo as criancinhas, ruma pela estrada da Serra dos Mangues à praia dos Salgados, e evita a sujidade da Baía. Que a terra, essa, foi já irremediavelmente estragada pela voragem do betão, sobretudo na Marginal, entretanto a sua zona mais cuidada. O Pavilhão de caça usado pelo Rei D. Carlos, mais tarde conhecido por Casa dos Rochas, está de tal aneira entalado entre apartamentos novos, que já ninguém dá por ele. Valha ainda poder comer bom peixe na Casa, com belas vistas sobre a Baía, ou com vistas contrárias, já do cais, no Peixe na Linha.

Hotel Palace do capitão, fotografia de sousalopes.com

Hotel Palace do capitão, fotografia de sousalopes.com

A terra fica a 13 quilômetros da nazaré, a 24 de Alcobaça, a 17 das caldas da rainha, e a uns 11 da foz do relho por uma relativamente recente Estrada Atlântica.

Bons tempos em que lá brilhava o Hotel do Parque – hoje com o edifício ainda de pé, mas já fechado. Para além das pequenas pensões, tem um Hotel boutique na Marginal, o Palace do Capitão. Era este Capitão uma figura da terra, da família Rebelo Pinto.

Por aqui são vistas figuras públicas políticas, que vão desde o eng. Pinto Eliseu (homem da terra e que foi secretário de cEstado das Obras Públicas de Salazar), passando pelo CDS (Jose Luis Nogueira de Brito e o produtor de vinhos do Oeste Neiva Correia, pelo PSD (Rui Machete, Ernâni Lopes ou Manuela Ferreira Leite) e até do PS (família Megre).  Noutros tempos, andavam pela Valeta (nome dado à rua dos cafés, onde ainda há não muitos anos estavam situados os únicos cafés da terra) pessoas como o Dr. Arsénio Cordeiro, ou o empresário Domingos Megre.

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