Apelos à emigração não são iguais nem igualmente apelos

Fotografia do Económico
Não digo que, na minha opinião, António Costa tenha sido feliz, ao sugerir a emigração dos professores, depois de o anterior Governo ter defendido activamente (por palavras, actos e omissões) essa mesma emigração. As palavras cruéis e estúpidas de Passos a pedir para as pessoas abandonarem a sua ‘zona de conforto’, enquanto ele se entretinha a destruir empregos, diminuir salários, arrasar a economia nacional, e reduzir a produtividade do trabalho em Portugal serão sempre para mim mais graves.
Relembremos então, com o recurso a vários jornais, o que ambos disseram, sobre o assunto, com 4 anos e meio de distância.
Passos, em entrevista ao CM, em dezembro de 2011: «Estamos com uma demografia decrescente, como todos sabem, e portanto nos próximos anos haverá muita gente em Portugal que, das duas uma: ou consegue nessa área fazer formação e estar disponível para outras áreas ou, querendo manter-se sobretudo como professores, podem olhar para todo o mercado da língua portuguesa e encontrar aí uma alternativa». Mais a zona de conforto, e etc. Porque Passos não se limitou a falar dos professores, foi insistentemente mais genérico.

Fotografia do Diário Digital
E agora António Costa, em França, no passado dia 12: «É muito importante para a difusão da nossa língua. É também uma oportunidade de trabalho para muitos professores de português que, por via das alterações demográficas, não têm trabalho em Portugal e podem encontrar trabalho aqui em França».
Nenhum dos 2, como primeiro-ministro foi feliz. Mas o primeiro revelou-se um desastre completo, e fez Portugal retomar a sua política de intensa emigração. Cada macaco no seu galho, cada um com a sua distinta responsabilidade – apesar de ambos infelizes. Quem os quer pôr ao mesmo nível não anda de boa fé, e talvez queira apenas lavar a imagem de Passos, que o actual Executivo todos os dias deixa mais suja.
Até o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, o futuro da Direita democrática em Portugal, disse a propósito: «Eu, por acaso, estava lá [em Paris] quando isso foi dito e não atribuí o significado que foi atribuído».