Vinagrete 16.05.11

A Igreja e a escola privada

Fotografia da C.M. de Estremoz

Fotografia da C.M. de Estremoz

Não gosto de ver figuras da Igreja envolvidas na defesa do pagamento do Estado às Escolas Privadas. E não gosto, como católico que sou. Sobretudo, este estimular de instintos primários de ‘mata-frades’, pare depois defender uma coisa que está longe de corresponder às atitudes sociais e de fraternidade a que as Escrituras obrigariam a Igreja. Curiosamente, hoje toda a Hierarquia Católica não hesita em se afirmar satisfeita com a separação da Igreja e do Estado. Mas quando foi feita uma Lei nesse sentido, apelidaram o seu autor, na 1ª República, de ‘mata-frades’.

A ex-ministra da Educação Isabel Alçada, mulher do anterior presidente da Gulbenkian (Rui Vilar), assessora do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa (outro católico que me parece bastante fervoroso), encomendou em 2011 à Universidade de Coimbra um estudo para saber se havia turmas no privado que estavam a ser financiadas pelo Estado, apesar de haver oferta disponível em escolas públicas próximas. A conclusão foi que era possível cortar contratos de associação com os privados em 80% dos colégios.

Li ontem no Expresso diário que o autor do Estudo, António Rochette, desabafou sobre o assunto: «Fui linchado, fui enxovalhado nas redes sociais, nos jornais… até mata-frades me chamaram».

Não é bonito saber que a Igreja, devendo ser a primeira a defender um ensino público para todos, e um privado a viver em concorrência (que até pode ser bem feito por si, como na Universidade Católica), opta por outras demagogias menos cristãs. Pessoalmente, frequentei um colégio católico, no anterior Regime, mas suponho ter sido totalmente pago pelos meus pais – já que o Estado se empenhava mais em fornecer um bom ensino público, embora bastante elitista, e pouco propagado. E para os meus filhos também nunca me foram dadas abébias pelas escolas privadas, mesmo católicas: tinha de pagá-las, o que não pude fazer (ainda por cima, pai de 8 filhos, e não havendo já sequer descontos para famílias numerosas nas escolas privadas, mesmo católicas). Mas acho que quem não pode, deve apenas exigir um bom ensino público.

Quanto aos privados, se acham que não têm condições para cobrar, devem dedicar-se a outra coisa mais rentável. E não contribuírem apenas para o mau ensino público e o desemprego no sector. O que me parece péssimo, e mais ainda como cristão.

E entretanto, lá continua o pingue-pongue das consciências mais pesadas no assunto: Passos Coelho e Mário Nogueira (que diz ter a vantagem, em relação ao ex-primeiro-ministro, de não se esquecer das suas obrigações sociais e fiscais).

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